quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Depois do "Rebolation" vem o "Cerebration"

Mais uma vez me deparo com a saudosa e difícil missão de tentar resumir o indescritível, o indefinível, o incalculável. E todos os números que eu vinha juntando nem tangenciam a grandeza de se viver apenas um dia de folia em Salvador. E olhe que são seis dias de festa, pelo menos oficialmente...
E oficialmente, este carnaval começou diferente: o rei Momo, pelo segundo ano consecutivo uma grande referência musical de nossa Bahia, com um pequeno sobrepeso, recebeu as chaves já na farra! Nada daquela cerimônia careta e chata. Pepeu Gomes abriu a festa cantando e tocando junto com os herdeiros da máquina da alegria, em cima do tal Ford Bigode 1929, mais conhecido como “Fobica”, que evoluiu e se tornou o trio elétrico, completando 60 anos de história.
2010 foi também o ano da comemoração de um quarto de século desde que Luiz Caldas, nosso primeiro Pop Star, apresentou ao Brasil o nosso Axé Music. A música da alegria estava criada e, assim como o Dendê, era da Bahia. E como mancha de Dendê não sai, 2010 foi ainda o ano do retorno de Moraes Moreira, depois de 10 anos de reclusão carnavalesca. Moraes, que deu voz ao trio, estava de volta.
Mas a verdadeira voz do carnaval sempre foi e será a voz do povo (não sei até quando?), a voz da fantasia, da liberdade, da música – verdadeira expressão artística que torna tudo isso possível.
E me vem a pergunta inevitável: qual foi “a música” do carnaval?
Bem, este ano foi diferente, não havia uma única música que estava soberana no subconsciente coletivo. Não. Cada grupo de foliões elegeu a sua. Para aquela turma que todo ano dá uma jeito de terminar o namoro, ou arrumar uma confusão conjugal ás vésperas da chegada de Momo, a eleita foi o “Vale Night”. Durval Lélis, com sua irreverência, instituiu legalmente o que já ocorria de forma extra-oficial há vários 60 anos.
Já pra quem vai direto ao assunto, se esquecendo do aspecto sanitário, mandando ver de boca em boca, a escolhida foi “Na base do beijo”, cantada por Mamãe Ivete Sangalo. Ivete ainda distribuiu pelos repertórios uma releitura baiana do conto de Chapeuzinho vermelho levantando uma polêmica danada. Não sei por quê? Desde o nascimento do Axé já se cantava “abra a rodinha por favor”, “na boca e na porta do céu”, “quirica na bussanha”, “depois de 09 meses você ver o resultado”, qual a diferença em "vou te comer"? A poesia há tempos iniciava sua retirada do carnaval. Ora, nada mais natural, o carnavalis é um sucesso mundial porque é a semana da farra da carne, da festa do corpo, da liberdade, do descompromisso, e não a festa da mente.
Sendo assim, na semana do corpo a música que faria mais sucesso, evidenciando o culto ás formas, ao movimento dos quadris, á sensualidade, seria O “R-e-b-o-l-a-t-i-o-n”. E foi. Claro!
Apoiada no carisma e na figura corpórea de Léo do Parangolé, a música agradou não apenas quem queria ou não beijar na boca, não apenas quem queria ou não um vale-night, não apenas quem queria ou não um Lobo Mau, mas sim a maioria absoluta. A maioria que entende que esta é a semana do ano que tiramos pra esquecer da mente e celebrar a farra do corpo! Salve o corpo, salve o Carnaval, salve o Rebolation!
Mas olha só, o carnaval passou, heim?! E o culto explícito da carne, vamos acordar, deve durar apenas 01 semana por ano. As cinzas do corpo chegam com a quarta e é hora de voltar nossa preocupação para o trabalho, para a mente, para a educação, para o cérebro. Por favor, voltemos ao período que deve durar as outras 51 semanas do ano, voltemos ao período do “C-e-r-e-b-r-a-t-i-o-n”.